terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mas e quem trabalhou com fado, o que diz?

Estrela Carvas foi secretária da Amália Rodrigues. Hoje cuida da Casa-Museu Amália Rodrigues, na Rua de São Bento em Lisboa. E a gente foi lá!!!

A gente fez uma entrevista com ela e aqui vão as melhores frases dela:

SOBRE AMÁLIA RODRIGUES:
“A voz, a sensibilidade, a presença... Era uma pessoa, era uma intérprete de tal forma que a voz vinha das entranhas, vinha do além.Amélia alterou o fado, deu uma nova vestimenta. A Amália tinha uma lucidez, aliada a uma forte intuição, que no fundo é uma forma de inteligência, que não lhe permitia ser feliz, pois ninguém que é lúcido no mundo atual consegue ser feliz. Num mundo destes, você já viu um mundo destes? Um mundo, como dizia minha Mãe, ‘cheio de não-prestas’? Diferente da Piaf, nada auto-destrutiva. Amália era muito sonhadora, exigente, mas acho que ela teve tudo que a vida pode dar a alguém. Primeiro casamento durou três anos. O segundo foi de 1961 a 1997 (36 anos). O marido dizia que a mulher depois de 25 anos vira parente! A carreira de Amália foi toda feita em cima do joelho, em cima de amadores. Era tudo assentado em uma coisa chamada “valor”, era tudo natural, espontâneo, franco na carreira dela, se apoiava na verdade. Antes rodeada de amigos, mesmo que não sejam profissionais, do que profissionais que não sejam meus amigos. O público sente, tem a intuição de saber o que é genuíno, um tesouro intenso que era aquela mulher. Era uma força da natureza, era espontânea. Agente vê as outras artistas e ela ergue um dedo e sabe que aquele gesto foi estudado. Piaf quebrando os copos. Amália se fizesse era porque caiu o copo, mesmo. Nunca cantava da mesma maneira. Ela disse uma vez: “Fiz ali uma voltinha que não era feia, mas não consigo fazer igual”. E no dia seguinte era diferente”.

“Não era a maior nem a melhor: era única.”

SOBRE FADO:
“O fado é uma reza”. “O Fado da Severa? Desgraças...” FACTUM é destino, nem sempre ruim ou triste. Fado corrido é mais ligeiro. Felicidade não dá história, não chama a atenção. Os dois vão lá, casam e vão ser felizes para sempre, isso não dá história. O fado faz as pessoas chorarem. Fado chorado.

SOBRE OUTRAS CANTORAS:
“A Mariza é boa. A Ana Moura tem alma, é fadista, tem alma, tem coração a cantar. A Amália indicou a Dulce Pontes para o Japão, mas ela faz muitos floreios. Teresa Salgueiro, do Madredeus, daria uma boa fadista, mas não canta fado. Mas tem voz e tem alma. Rita Guerra não é fadista, mas ela viu outro dia na TV cantando uma música da Amália e viu que ela tinha alma, interpretou muito bem”.

SOBRE... O PAPAGAIO DA CASA!
“O papagaio chama “Amália, Amália!”E põe-se a dançar a raspa. Os papagaios são como as crianças, são chatas. Quando chega a vista e se pede que mostre lá a gracinha que sabem fazer, não fazem. Mas quando queremos que elas fiquem quietas, é que elas fazem”.

2 comentários:

Márcia disse...

Muito boa a entrevista!

Fausto Viana disse...

legal,né!!!(principalmente a do pássaro!!)